“Desta altura, com a testa pegando no balcão, vai ser impossível atender os clientes. Ele é muito pequeno!” Talvez senhor Zizinho, aquele mesmo que todos conhecem ou conheceram pelo seu estilo e jeito peculiar, teria dito isso quando viu o neto tentar atender o seu primeiro cliente no Bar Sant´Ana, que ainda fica ao lado da matriz. Difícil contrariar os avós, mas o senhor Zizinho, e todo mundo que olhava aquele menino, estava errado.
Ele conseguiu atender os clientes por um bom tempo e era, ao contrário do que parecia, muito grande, aliás, enorme, senão ele, então o coração. Se a testa era da altura do balcão, o coração encostava no teto. Encostava não! Ainda encosta, do presente. E quiçá no futuro continuará encostando.
O menino do Bar, que recebeu o nome do Papa Albino Luciani, e que graças ao “erro” do pai da Graça do Cartório, ficou conhecido como Albino Luciano, hoje, por ironia do destino, atende por apenas três letras: A, B e C. Pronto. Todos já sabem de quem estamos falando. Luciano do ABC, agora, um homem que com muito mais do que três letras formou cidadãos e cidadãs por toda a cidade através de um projeto que pode parecer simples, mas é luxuoso, rico, milionário e dá muito mais do que aparentemente oferece. Ler e escrever, a conquista, são apenas traços e rabiscos quando as histórias de vida e depoimentos cruzam os caminhos daqueles que conseguiram o diploma de gente, de homem, de mulher, de seres humanos. E histórias não faltam.

Desde conquistas pessoais até idosos que declararam que agora conseguem ir ao cemitério e encontrar, ao ler a lápide dos pais ou filhos que foram sepultados ali, um pouco de conforto. De doer o coração? Não. É de dar orgulho na alma. Porém, se alfabetizar fosse o objetivo, a meta estaria completa. Mas a vida pediu mais.
E Deus, aquele da fé no Papa e do nome, pediu um pouco mais do menino de Sant´Ana, do menino que sempre lutou. Ele não só toca as pessoas com suas ações, como declara que foi tocado. E como sem saber explicar, em um ato de sobriedade, se voltou para a causa dos dependentes químicos. Por quê? Nem ele mesmo sabe explicar, mas Cracóvia, bem longe daqui, acostumada a batalhas, talvez um dia lhe diga, no silêncio da fé, no adormecer de uma noite, como e porque lhe colocou nesta luta, nesta guerra, que não é só dele, mas de todos.
Hoje, são inúmeras histórias e conquistas! E como em qualquer disputa, algumas ele ganha, junto com familiares que lhe rendem rezas e orações, e outras ele perde, como também perdem familiares e amigos. E assim, são os dias de Luciani, que virou Luciano e posteriormente sinônimo de alfabetização, consciência social e batalha contra o álcool e as drogas, tão urgente nos dias atuais.
Um menino que mal conseguia atender em um balcão e que ou a ser referência na família, no Santa Maria, no Espírito Santo e na cidade.
Aqueles típicos soldados que descem do céu vestidos simplesmente de gente, armados com livros, ideias, sonhos e palavras e ações escancaradas de amor, tão ausente nos dias de hoje. Este é Luciano do ABC, a Cara de Barroso deste dezembro de 2019.
Confira no vídeo abaixo uma entrevista exclusiva com Luciano do ABC, no quadro Gente da Gente. Aproveite e inscreva-se em nosso canal no Youtube.