A comunidade como parceira, como protagonista e como público é a inspiração da 31ª edição do Inverno Cultural da Universidade Federal de São João del Rei (UFSJ). O evento começa neste sábado (20), às 10h, com uma cerimônia no Fortim dos Emboabas, no Alto das Mercês.
Com o tema “Semear”, o objetivo é fomentar discussões sobre o papel e lugar da arte como ponte para processos de compartilhamento de sensações, ideias e visões de mundo em meio à cidade e como ela interage, influencia e modifica a paisagem e a vivência do público. Por isso, até dia 28, a arte estará nas ruas da cidade histórica seja nos “Totens Art” customizados ou nas mais de 100 atrações gratuitas – 89 eventos e 48 oficinas -, para um público flutuante estimado em 120 mil pessoas.
“O Inverno Cultural completa 31 anos e busca uma retomada das origens, uma reconexão e a democratização do o a recursos culturais com os moradores. A universidade é pública e está relacionada com a comunidade de que faz parte. Ao longo do ano, investimos em dez grupos em três bairros com vulnerabilidade social em São João del Rei. Agora, eles voltam à cena como protagonistas do que criaram, haverá atividades que levam a arte onde o morador está”, destacou o coordenador geral Ivan Vasconcelos Figueiredo ao G1.
Os editais e as parcerias despertaram o interesse de artistas de ritmos variados que vão se apresentar no Conservatório Estadual de Música e no palco principal dentro do Campus Santo Antônio, mantendo a proposta de estreitar laços com a comunidade.
“O Inverno Cultural fez parceria com projetos já financiados por leis de incentivo cultural. Foi assim que conseguimos o Felipe Oliveira, As Bahias e a Cozinha Mineira, o grupo de choro Brasileirinhos, além do espetáculo de dança ‘Antes do Corpo’, que fará intervenção antes do show de abertura, do Refinaria. Cerca de 95% foram por meio do edital da instituição. Grandes nomes da cena mineira manifestaram interesse, se inscreveram e foram selecionados”, disse o coordenador geral.
“Pelas experiências anteriores, o público é formado por 60% de moradores de São João del Rei e região e 40% por turistas. Pela métrica, cada real investido em lei de incentivo gera R$ 1,5 de retorno. Ou seja, investimos R$ 600 mil para contratação de artistas, fornecedor, empregos diretos e indiretos e a estimativa é trazer R$ 906 mil para a cidade”, disse Ivan Vasconcelos Figueiredo ao G1.
A volta do Casarão
O Fortim dos Emboabas, propriedade histórica que pertence à Universidade desde 2009, é o marco simbólico desta edição do festival. Sede do “Museu do Barro” e do projeto de extensão “Centro de Referência da Cultura Popular”, o Casarão, como é conhecido pela comunidade, está em obras desde 2017, com apoio istrativo e financeiro acordado entre a Fundação de Apoio à Universidade Federal de São João del-Rei (Fauf) e a UFSJ.
“A gente selecionou artistas, artesãos, contadores de história de São João del Rei e região para fazer uma residência artística no Fortim dos Emboabas, no Alto das Mercês. A ação marca a entrega da primeira fase de restauro, da retomada deste centro de cultura popular e desloca a cerimônia de inauguração para as regiões onde estes saberes estão”, destacou Ivan Vasconcelos Figueiredo.
Além da abertura, sediará oficinas do Mutirão Cultural, com metade das vagas para moradores do Alto das Mercês e proximidades: “Rap: ritmo e poesia da quebrada”, “Oralidades Urbanas”, “Farmácias Vivas, Segurança e Soberania Alimentar”, a de “Cúpulas Geodésicas de Bambu”, a de “Camiseta autoral – faça você mesmo”, “Assumindo nossas raízes”, “Resgatando a Marcenaria Artesanal”, “Biocosmética Intuitiva” e “Por dentro da magrela: manual de primeiros-socorros para o ciclista em apuros”, “Acarajé Raiz”, a “Bateria Nota Mil: o coração da escola”, “No fio da meada” e “Customização de lixo em arte”.
Arte, música, cultura, teatro, literatura para todas as idades
Para Ivan Vasconcelos Figueiredo, este trabalho de ampliar o o à cultura tem que começar desde cedo, por isso, foram viabilizadas atrações para o público infantil.
“Com a retomada de investimento de ações de cidadania cultural, fortalecemos nossa programação voltada para crianças. Serão 25 eventos, incluindo teatro infantil e contação de histórias”, afirmou.
“Estamos trabalhando a perspectiva voltada para os moradores, desconstrução de que arte e cultura são aquilo que o mercado prega. Nosso contraponto é mostrar que arte e cultura estão em todos os cantos, especialmente fora do mercado convencional”.
No teatro, estão previstos os espetáculo “Por visões”, da Cia o a 2 de Teatro, no dia 25; a peça “Incômodos”, do grupo Corpo Coletivo, que será apresentada dentro de casas ou apartamentos da cidade entre os dias 25 e 27. O espetáculo “Nightvodka”, do Grupo de Teatro Armatrux, é atração no dia 26.
As artes visuais trazem a primeira exibição pública do documentário “Invenções da Alma”, apresentando os trabalhos de artistas plásticos brasileiros de raiz. A exposição “Como costurar as margens” propõe novo olhar para o Córrego do Lenheiro, onde será montada. A mostra lambe-lambe “Olhares da Diáspora” estampará fotografias sobre o empoderamento da mulher negra nos muros da Escola Estadual Tomé Portes Del Rei.
Além dos tradicionais “Lançamento de Livros” e “Concurso de Poemas”, a performance poética “Noite Mal Dita”, no dia 23, do Coletivo Helleborus, apresenta os textos de jovens poetas de São João del-Rei. “Os Carmins – e as outras cores”, do produtor e gestor cultural Pedro Lago, propõe um processo de co-criação literário, teatral e musical no dia 24.
O coordenador destacou que os organizadores de festivais universitários analisaram o papel do evento em um fórum em 2016. O resultado foi trabalhar para reforçar a ruptura de elitização da cultura e a valorização dos saberes populares e tradicionais.
Informações G1