Compartilhe:

Quem viveu o final e o início dos anos 90 em Barroso, certamente vai se lembrar dos bons tempos do Brejinho, da Danceteria Focus e de alguns personagens que são históricos e eternos. Naquele tempo, em frente à Igreja Matriz de Sant´Ana, ao lado de onde existe um monumento inexplicável, um homem, deficiente físico, esticava um pano no chão, descia das suas muletas e subia sobre seu talento, colocando em exposição suas artes, como pulseiras, cordões e outras mil coisas feitas com muito amor. Muitos não vão se lembrar, mas aquele era José Augusto da Fonseca, o Zé Augusto, um deficiente físico que produzia, com a ajuda de muitos amigos, artesanatos na praça.

E que fim levou Zé? Não, seres humanos como ele não morrem, são eternos! Aliás, como diz a capa do seu livro, que tem um poema sobre Barroso, talvez tenha virado uma Estrela Lilás, que entre uma memória e outra, um dia, quem sabe, vamos ver por aí, nestes céus sedentos por pessoas com aquele coração. Mas a história de Zé não começou aqui. Zé, inclusive, não nasceu aqui, nasceu em 22 de fevereiro de 1956 em Azurita, distrito de Mateus Leme, Minas Gerais, e viveu boa parte da vida em Itaúna. Aos cinco anos, desenvolveu poliomielite e perdeu o movimento das duas pernas. Se não fosse o bastante, perdeu a mãe ainda criança e perdeu sete irmãos ainda na adolescência. E de tanto perder, tentou contra a própria vida ateando fogo no próprio corpo. Teve três paradas cardíacas, boa parte do corpo queimada, mas seu coração não parou. Foi forte, foi inteligente, foi amigo e numa linguagem sa foi Frère, amigo, um bom vivant, daqueles que a vida é agora, não ontem, nem amanhã, agora.

Apaixonado pelo Rio de Janeiro, fez amizades globais, visitou sets de gravação e numa das aventuras na noite carioca, invadiu o Rock in Rio, esqueceu as muletas e se misturou em meio à multidão para curtir o festival. Dentre as inúmeras loucuras, consta um sumiço por três meses, onde só foi encontrado nú na Praça Sete, em Belo Horizonte. No seu mundo, era um nú artístico e como a notícia ganhou os principais jornais, sua família o encontrou e foi buscá-lo. São episódios que revelam como Zé Augusto teve uma vida trágica e cômica, mas que ao mesmo tempo, é expressa com beleza em seus poemas, poemas dedicados a amigos e a Barroso, onde ele reunia a paisagem e torcida pelo Cruzeiro com as curvas e histórias do Caracol. Onde ele falava de cada amigo, seja de Maurício Mattar, ator global, seja de Lauro Henrique, Cacá, Nem, enfim, amigos de Barroso que faziam Zé sonhar em frente à igreja central, com suas coisinhas simples e um olhar carinhoso para todos.

O coração do poeta, artesão, frère, parou de bater em 17 de dezembro de 2006. Aos 50 anos, em casa, ouvindo uma coletânea de rock que ganhou do sobrinho Marquinhos, o órgão mais importante do corpo de Zé Augusto, assim como suas pernas, parou, definitivamente… parou!

Mas, a vida não será o ontem e nem nunca será o amanhã, como Zé nos ensinou, a vida é e será sempre o AGORA!

“Mesmo na dor, há beleza! Eterno Frère”.
Agradecimento ao sobrinho Alexandre Augusto da Costa.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *