Nas últimas décadas do século XVII, bandeirantes paulistas avistaram de longe um pico, de onde poderiam avaliar a região na qual queriam explorar ouro. Ao subirem, eles tiveram a visão de uma terra farta em pedras preciosas e recursos minerais e decidiram se instalar na área. Foi aí que teve início a povoação de Santo Antônio do Rio das Mortes, atual Tiradentes, no Campo das Vertentes. Mais de 300 anos depois, o elevado que deu origem à cidade – hoje chamado de serra de São José – emoldura o centro histórico do município e está em vias de ser tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).
As tratativas para o tombamento começaram em 1979, a pedido do Instituto Histórico e Geográfico de Tiradentes (IHGT), mas estavam paradas desde então. Somente em agosto deste ano é que o Iphan retomou o processo. A expectativa é que até 2021 o reconhecimento federal seja concluído.
O processo é aguardado com ansiedade pela população, segundo o presidente do IHGT, Rogério de Almeida. “Estamos falando de uma área com grande biodiversidade, que precisa ser protegida e receber investimentos para conservação”, diz.
Segundo o secretário municipal de Cultura e Turismo, Henrique Rohrmann, é urgente uma proteção maior à serra, que vem sendo vítima de crimes ambientais, como incêndios e exploração irregular de plantas nativas para comercialização, especialmente orquídeas e bromélias.
Há uso da área para pastagem clandestina de animais, corte de árvores nativas para cercas e realização de trilhas por motoqueiros com a consequente destruição de caminhos históricos. Um exemplo de patrimônio ameaçado é a chamada “Calçada dos Escravos”, construída por escravos no século XVIII. Este era o caminho por onde se desviava ouro para não se pagarem os impostos à Coroa portuguesa.
Boom
Um possível avanço da mineração e um boom imobiliário em uma área protegida ao redor da serra também amedrontam os moradores. “Uma mineradora já atua lá perto, mas está com a concessão vencendo. Não podemos abrir espaço para outras”, afirma Rohrmann.
Antes mesmo da conclusão do processo de tombamento, as irregularidades já estão no radar do Iphan, segundo a chefe do escritório técnico em Tiradentes, Camila Tangerino. “A gente já discute com o pessoal do IEF (Instituto Estadual de Florestas) a possibilidade de haver um controle no o à serra. Já sabemos da necessidade de ter ponto de recepção e até orientação em relação à conservação para quem for fazer trilha”, afirma.
Esta não é a primeira iniciativa de preservação. Há 30 anos, a serra se tornou uma Área de Preservação Ambiental (APA) e, desde 2004, tem uma área considerada Refúgio de Vida Silvestre (Revs) de libélulas, o que garante proteção do Estado. Segundo o gerente da APA, Itamar Christófaro Silva, por essa razão, 15 pessoas ficam por conta da gestão do local. “Se não fosse a criação da APA, a serra estaria praticamente toda alterada”.
Informações O Tempo | Foto: Flávio Tavares
Comments are closed, but trackbacks and pingbacks are open.