Entre os gestos mais solidários e grandiosos de um ser humano está o de adotar, um verbo que deveria ser conjugado mais e mais, por muitas e muitas pessoas em todo o planeta. Como diria Hélia de Souza: “Adotar é ter um filho pelo desejo de ser pai e mãe e que se realiza pela fertilidade emocional, afetiva e espiritual”. A grandiosidade é tamanha, que existe um dia específico para celebrar a adoção: 25 de maio, Dia Nacional da Adoção. A data faz parte de uma Lei: número 10.447/2022, que instituiu o Dia Nacional da Adoção, onde também é celebrada, na semana anterior, a Semana Nacional da Adoção.
Mas a conjugação deste verbo não é tão simples, como aparenta. Para se ter uma ideia, atualmente, só em Minas Gerais, há 573 crianças aptas à adoção e 4 mil e 551 pretendentes habilitados para adotarem. Os dados são do Tribunal de Justiça do Estado (TJMG). Ainda assim, a fila de espera para receber uma criança pode durar cerca de seis anos.
E foi quase o tempo que levou para o casal barrosense Ana Cristina e Rone Cassemiro para conseguir a adoção de duas meninas. “Na verdade o desejo em adotar não partiu de mim, esse desejo era do Rone. Logo depois de casarmos, ele me relatou esse desejo, eu não dei muita importância, pois já casamos com idade acima de 30 anos e eu tinha pressa em ser mãe. Assim, já casei pensando: vou engravidar logo”, diz Ana Cristina que imaginava que ao ficar grávida, o marido desistiria da ideia da adoção. “Fizemos todo o procedimento burocrático, mas sempre estava tentando engravidar, só que a gravidez não acontecia”, diz ela que então resolveu buscar ajuda médica para saber se tinha algo errado. “Foi quando descobri que de fato tinha um impedimento e eu teria que fazer um tratamento”, descreve Ana. “Só que neste meio o processo de adoção corria e fomos habilitados oficialmente no cadastro. Até então nosso perfil era de um bebê de até nove meses de vida e não escolhemos raça e nem sexo. E marcamos a opção de Minas Gerais, Rio de Janeiro e São Paulo, porque caso acontecesse, eram os estados onde conseguiríamos buscar a criança”, declara Ana Cristina.
Porém, em meio a todo este processo burocrático, Ana ainda não tinha desistido de engravidar e continuava o tratamento. “E deu certo, depois de muita luta, consegui engravidar, mas a gestação não prosseguiu. Tive aborto retido e não poderia engravidar mais”, conta a barrosense que sonhava em ser mãe.
“Foi em 2017, há cerca de seis anos, que eu realmente comecei a pensar que talvez não eram esses os planos que Deus e entreguei meu desejo de ser mãe nas mãos dele. “Comecei a rezar e pedi a Nossa Senhora por um milagre. Pedi que colocasse um bebê em meu ventre e ou no meu coração, mas também pedi que que se não fosse para ser de forma nenhuma, que me deixasse viver em paz feliz e tirasse esse desejo de ser mãe de mim”, conta.
Assim, todo ano íamos ao fórum e atualizávamos o cadastro de adoção e rezávamos muito pedindo a Deus que desse certo. “Porém, em 2021, quando fui atualizar meu cadastro, decidi mudar nosso perfil de adoção e abri o leque. Falei com a assistente social que queria adotar uma criança maior, coloquei a opção irmãos e escolhi menina”, descreve Ana.
E quis o destino que o telefone de Ana Cristina tocasse no dia 3 de maio de 2022, quase um ano depois de mudar o cadastro. “Foi o dia do meu parto, do nosso parto. Era a possibilidade de adotarmos duas meninas; Isabela, de 4 anos, e, Ana Clara, de 7 anos, duas irmãs. Eu não acreditava”, relata a mãe que teve o primeiro contato, por autorização da juíza devido à distância, cerca de 700km de Barroso, por telefone. “Recebemos uma fotinha delas e foi amor à primeira vista. Elas realmente eram nossas filhas. Eu me lembro que ficava olhando a fotinha delas 24 horas por dia”, ressalta Ana que fez a primeira chamada de vídeo e se apaixonou de vez. “Elas roubaram nossos corações”, diz.
O ENCONTRO
Pais e filhos tiveram contato quase que diário por vídeo chamadas e cerca de um mês depois, a juíza autorizou o primeiro encontro. “Viajamos e fomos conhecer pessoalmente nossas filhas. E o sentimento só aumentou. Era muito difícil para nós voltar para casa e deixar as meninas por lá, mas tínhamos fé que logo logo elas elas estariam em casa conosco. “Três meses depois e outros encontros buscamos, definitivamente nossas filhas, em agosto de 2022”, relata a mãe que se emociona ao falar de toda a luta “Se você pedir para explicar o sentimento, não sabemos explicar, só sei elas são nossas filhas. Não sei se vou saber explicar, mas a sensação é que elas sempre estiveram aqui, do nosso lado”, explica Ana Cristina.
GRUPO
E para celebrar a data da adoção, esse ano, por iniciativa de alguns casais barrosenses, foi criado o primeiro Grupo de Apoio a Adoção – “Gerados em Deus”. Com objetivo de orientar, informar, apoiar e sensibilizar a população acerca do tema, o grupo está nascendo e apoiando as famílias cujo já adotaram, são pretendentes ou ainda desejam entrar para a fila da adoção. E o grupo que se iniciou com três casais, conta também com uma profissional de apoio, a Psicóloga Joseany Tostes Mendonça, e está aberto a novos postulantes. Para outras informações você pode entrar em contato pelo telefone (32) 98877-0677, falar com Ana Cristina ou seguir a página recém-criada no Instagram.
“Hoje, depois que vejo tudo o que amos, olho para trás e só tenho uma certeza: Deus sempre esteve do nosso lado. E se hoje falo abertamente sobre isso, é porque quero ajudar as pessoas que am por tudo isso. Eu sei exatamente o sentimento e quero ajudar, por isso, junto com amiga Gisele Domingues, resolvemos criar o grupo de ajuda em Barroso”, declara Ana, que ao todo, conta que foram sete anos de gravidez.
“Toda criança devia ter o direito de ter uma família e eu queria dizer para aquelas pessoas que tem o desejo de adotar ou as mamães que como eu não conseguem gerar seus filhos. Em algum lugar tem alguém esperando por você, alguém sendo gerado no coração de Deus. Sempre tem uma criança por aí precisando de um lar seguro e um mundo cheio de amor”, conta a mãe, que resolveu abrir o coração e falar com a reportagem do barrosoemdia. “Hoje eu quero ajudar”, diz.