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A psiquiatra infanto-juvenil chilena Ana Marina Briceño tem 20 anos de experiência no atendimento a adolescentes deprimidos – algo que se limitava a seu âmbito profissional até que, pouco depois do início da pandemia de covid-19, sua própria filha foi diagnosticada com ansiedade e depressão.

“Coube a mim viver o que eu tantas vezes havia diagnosticado”, diz Briceño à BBC News Mundo, serviço em espanhol da BBC.

O problema é global e afeta duramente a América Latina, onde, segundo as estimativas mais

recentes do Unicef (braço da ONU para a infância), quase 16 milhões de jovens entre 10 e 19 anos têm algum transtorno mental. Isso equivale a 15% das pessoas dessa faixa etária.

A face mais triste desse fenômeno é o suicídio: mais de 10 adolescentes tiram a própria vida diariamente na América Latina, aponta o Unicef. É a terceira principal causa de mortes na faixa etária de 15 a 19 anos.

De acordo com a psiquiatra, é muito difícil dar uma só razão, porque é um fenômeno multicausal, com vários elementos.

“Vimos empiricamente que a pandemia foi muito complexa para os adolescentes, e uma hipótese é que privá-los da interação social em uma idade-chave disso foi algo complexo. Mas o aumento dos casos de depressão começou desde antes da pandemia. Há evidências associadas às redes sociais, de como a permanente comparação dos jovens com outros – tanto sua vida como seus corpos – aumenta problemas relacionados ao ânimo e à ansiedade. Vale lembrar que sempre se questiona se a sociedade está hoje mais capaz de ver esses problemas, que antes provavelmente ficavam mais ocultos”.

Ainda segundo Ana, os casos de autoagressões se diferenciam do risco de suicídio. “É pouco provável que os que se autoagridem queiram se matar desse modo. Mas o suicídio é um risco real, e qualquer tentativa de minimizá-lo nos deixa mais vulneráveis. Acho que muitas vezes os pais entram em um estado de negação e acham que os filhos estão tentando chamar a atenção e não veem isso como um desejo real de morrer. Mas se sabe que toda tentativa de suicídio, inclusive as consumadas, há uma parcela de intenção de mudar o ambiente, mas também uma parcela é desejo real de morrer”.

Via Estado de Minas

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