Em um Cantão, tradução para GuangZhou, no Sul da China, acredite você, um barrosense vive tranquilamente em sua casa. Pelo menos vivia, antes do mundo ficar de “cabeça para baixo”. Mas, diante do que foi imposto à sociedade, o mineirinho achou um lugar para se recolher, no caso, a sua segunda casa, em Bar- roso, mais precisamente no bairro Jardim Bandeirantes. Este é o endereço de Wander Paiva, 34, que, apesar de ter como lar a província Guangdong, há 11 anos vive trabalhando em dezenas de países como modelo internacional, viajando de país em país, fechando contratos por temporada. Na agenda, que vive, ou vivia lotada, estão campanhas, catálogos, comerciais, desfiles e reuniões de negócios que só são interrompidas para uma pausa ao Brasil, onde as festas de fim de ano com a família e amigos ganham espaço.

E diante de tudo que envolve a China recentemente, país onde teria originado, em Wuhan, a maior pandemia da história, do coronavírus, a reportagem do Barroso EM DIA foi ouvir este mineiro que pode falar, na nossa língua e sotaque, por experiência própria, sobre o país que tão pouco conhecemos e como ele vem enfrentando a pandemia. “A China é um país incrível, rico em culturas, costumes e super seguro. O único problema, costumo dizer, é a distância, pois está situado simplesmente do outro lado do mundo”, brinca o barrosense que recentemente está morando com a mãe em Barroso. “Todos nós acabamos ficando “presos”, impossibilitados de retornar aos trabalhos na China ou até mesmo ir pra outro país, devido, ao então, início da Pandemia e fechamento das fronteiras em março do ano ado”, relata. “Viver na China, tem lá seus pontos favoráveis, mas nem tanto. Lá, há câmeras de segurança com tecnologia de reconhecimento fácil, em todas as partes, e é possível identificar cada pessoa na rua. Como todas as empresas compartilham seus dados com o governo, o estado consegue controlar a vida da população, garantindo assim, que as leis do país sejam seguidas. Lá, não há liberdade de imprensa e o setor de mídia está sob controle estatal. O governo chinês mantém um controle rígido sobre a internet e os meios de comunicação. Lá, nem tudo é liberado”, conta Wander que usou um e-mail para se comunicar com a nossa reportagem. O que pode parecer muito óbvio para nós, mas não para os chineses. “Redes sociais internacionais como Instagram, Facebook, Twitter, WhatsApp e até mesmo sites de entretenimento e pesquisas como YouTube e Google, por exemplo, são todos bloqueados. Para poder á-los é preciso baixar e ar programas de desbloqueio, como VPNs, que utilizam IPs do exterior para estabelecer conexões entre as redes que são restritas. Nos tempos de hoje é meio que uma nova muralha que tem sido criada, porém, agora, ela é virtual. Desta forma, o governo consegue filtrar tudo que chega para o seu povo. Para não ficar pra trás, a China acabou criando, ou copiando, suas redes sociais e sites de entretenimento e pesquisas, se inspirando nas já existentes internacionais”, conta o barrosense que também falou de religião e culinária chinesa.
“Por não ser um país religioso, a China também persegue muito as comunidades religiosas. Pequenos grupos religiosos que se reúnem em locais não autorizados pelo governo correm seriamente o risco de serem presos, inclusive. Críticos e analistas questionam muito o atual presidente Xi Jinping, pelas suas arbitrariedades contra os defensores de direitos humanos”, conta. Já no que diz respeito à culinária, o modelo diz que sempre teve dificuldade na adaptação, justamente pela sua profissão, que exige uma dieta mais rígida. “Preciso manter uma dieta mais rigorosa e a comida chinesa, além de ter lá suas peculiaridades, que são totalmente atípicas à nossa, como o costume de comer cobras, escorpiões, larvas, cachorros, é também muito gordurosa. Então, na correria do dia-a-dia, é sempre uma luta pra poder manter o corpo, dentro de uma dieta mais saudável e os trabalhos, tudo na linha”, explica.
Segundo Wander, depois de descoberto em Wuhan, o vírus ainda demorou um pouco a chegar em Guangzhou, onde ela mora. “Quando chegou, felizmente, cerca de um mês depois, eu já havia retornado ao Brasil, estava em Barroso”, conta ele, que acrescenta que alguns amigos também retornaram ao país e já outros não tiveram a mesma sorte e tiveram que enfrentar a Covid em terras chinesas. “Tive alguns amigos que contraíram o vírus e não puderam sair do país, outros que não tiveram tempo, enfim, várias histórias, mas graças a Deus nenhum relato de algo mais grave”, diz.
BARROSO
Em Barroso desde dezembro de 2019, Wander nunca ficou tanto tempo sem viajar e trabalhar na sua área. “Estou em Barroso já há mais de um ano e, por causa da pandemia, embora tenha recebido vários convites, procurei me ausentar de viagens, encontros, reuniões e festas, justamente para evitar as aglomerações e, assim, prevenir minha família e eu do risco de contrair a doença e contagiar outras pessoas com a doença”, diz.
“Até então não cheguei a pegar a Covid. Nem eu e nem meus familiares. Estamos todos nos privando de muito contato social,

saindo apenas para coisas essenciais mesmo”, explica o modelo que vê na vacina uma esperança. “Agora, com a chegada da vacina, esperamos que muita coisa comece a mudar, a voltar ao normal, mesmo que devagar, aos poucos”, relata.
De acordo com Wander, que se solidariza com aqueles que perderam entes queridos, a vacina é algo que vai salvar o mundo. “No entanto, temos que ter a consciência de que não podemos, de forma alguma, achar que tomando a vacina, podemos já voltar à vida normal, logo em seguida. Não, não podemos. Pelo menos, por agora, não. Temos sim que continuar com as medidas de prevenção e segurança, usando máscaras, lavando bem as mãos, ando álcool em gel e evitando aglomerações”, diz o barrosense que conta os dias para voltar à vida normal e poder, novamente, viajar e trabalhar. “Espero voltar em breve às viagens, à China e aos trabalhos, mas até lá, sigo fazendo minha parte, na prevenção da doença, com todos os cuidados necessários”, finaliza ele contando que por lá a vida já está voltando ao normal.
“A situação por lá, hoje em dia, tá bem melhor. Amigos meus, que ficaram lá ou que voltaram antes do fechamento das fronteiras, estão trabalhando e vivendo uma vida meio que normal já. As empresas e os estabelecimentos investiram em equipamentos tecnológicos de última geração, que ajudam na prevenção da proliferação do Coronavírus. Esses equipamentos, alguns instalados em câmeras, por exemplo, conseguem detectar até mesmo, por meio de reconhecimento facial, se a pessoa está com febre. Genial, porque o país está usando a ciência e a tecnologia a favor do bem estar de todos com o intuito de voltar a viver normalmente”, diz.