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Tive a honra de ir ao Museu nacional do Rio de Janeiro como estudante de graduação, como professor, como pesquisador e como turista, portanto quando vi domingo à noite o incêndio foi um misto de tristeza, dor e indignação, a qual aumentou após algumas postagens que vi em redes sociais.

Gente que dizia assim: “Mais era um prédio velho que pegou fogo”

Nossa…..não era um prédio,  era um universo fascinante que distorce o tempo e espaço, pois era a história de um país, o trabalho de diferentes pesquisadores e técnicos, eram diferentes culturas em um só espaço, era uma ferramenta imensurável de conhecimento em diferentes áreas, na pintura,  antropologia, paleontologia, zoologia, botânica, etnobiologia,  cultura indígena, egípcia, asteca e tantas outras, era um espaço dinâmico de educação.

ear pelo museu nacional era uma experiência única. Como pesquisador perdemos material que havíamos coletado no parque Estadual da Serra do Papagaio, como cidadão perdi um legado para o futuro, como pai perdi a chance dos meus filhos conhecerem o universo dos dinossauros, da mastofauna do pleistoceno (as preguiças-gigantes e tigres-dente-de-sabre), dos tubarões, dos insetos e da beleza dos fósseis.

Mas o incêndio do museu é ainda maior, por que reflete o incêndio maior do país, de um governo que investe mais em campos de futebol do que em museus, que investe em bancos e não em escolas, que se paga mais a um deputado do que a um professor, que aplaude candidatos que estimulam armamento da população, que estimula à intolerância as minorias, um país que todo dia reduz a Amazônia, onde grupos religiosos silenciam a ciência, onde a mídia define a verdade, que valoriza cada vez menos o pequeno produtor rural, que propõe redução das áreas de proteção ambiental, um incêndio que consome os hospitais públicos, que reduz a cinza a esperança de muita gente.

As chamas do Museu Nacional nos consomem diariamente de forma silenciosa, ainda mais cruel que o fogo que acabou com um legado de 200 anos.

por Marcos Magalhães

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