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Foto: Mauro Pimentel

Uma sensação estranha se apoderou de mim nos últimos dias. A sensação de que algo ruim está prestes a acontecer no vindouro Brasil x Argentina pelas Eliminatórias da Copa de 2026. Já senti isso antes, uma única vez, nos dias que antecederam Brasil 1×7 Alemanha em 2014. Enquanto muitos pediam coragem a Felipão para jogar como Brasil, eu externei minha preocupação na coluna que escrevia à época para o Doentes Por Futebol. 

Convenhamos, indícios de que a derrota viria contra a Alemanha não faltavam: Neymar, o único craque do time, tinha acabado de sofrer uma lesão grave; o zagueiro e pilar da defesa Thiago Silva estava suspenso; não havia no grupo alguém capaz de assumir as rédeas do time; a Seleção havia atuado muito mal diante de Chile a Colômbia, avançando na Copa sabe-se lá como; e por fim, a Alemanha vinha chamando atenção pela consistência. Lógico, ninguém arriscaria uma derrota por um placar tão elástico, mas os sinais estavam lá.

O sinal menos relevante agora é que Brasil x Argentina, assim como aquele Brasil x Alemanha de 08/07/2014, também acontecerá numa terça-feira. O que realmente chama atenção são as outras coincidências. Neymar, ainda o craque do time, está lesionado, assim como Vinícius Júnior, outra peça importante. A ausência de jogadores capazes de assumir as rédeas também se repete. Rodrygo tem tudo para se consolidar como world class, mas é muito jovem. Martinelli tem poucos jogos com a camisa amarela e Gabriel Jesus, embora mais experiente, está voltando de lesão e nunca foi um jogador desse calibre.

Contudo, o mais grave está no trabalho inicial de Fernando Diniz à frente da Seleção. De estilo singular, o técnico – que se divide entre clube e Seleção – optou pela questionável proposta de colocar jogadores internacionais para atuarem de forma aposicional, diferente de tudo o que fazem em seus times. O resultado é a versão mais caótica da Seleção Brasileira que se tem notícia.

Como se tal decisão não bastasse, Diniz optou por um esquema tático que, na prática, é um 4-2-4 que provoca um jogo de “trocação” que dá aos adversários grande liberdade para se aproximarem da área do Brasil. Quando esse ataque é do Uruguai ou da Colômbia, sabemos que o resultado é a derrota. E quando esse ataque é o da Argentina de Lionel Messi? 

Fernando Diniz está colecionando recordes negativos. Primeiro técnico a perder dois jogos seguidos de Eliminatórias, primeiro técnico a perder para a Colômbia nas Eliminatórias e dá todos os sinais de que pode ser o primeiro técnico a perder em casa comandando o Brasil. Vale lembrar que a Seleção vinha de longa invencibilidade na América do Sul sob o comando de Tite, o que mostra a inequívoca responsabilidade do atual técnico. 

Quando Diniz assumiu, havia dúvida sobre ele ter a experiência e o currículo necessários para o cargo. O título da Libertadores da América fez cessar essas perguntas, mas outras dúvidas se sobrepõem agora: Diniz tem o estilo compatível com os jogadores brasileiros que atuam na Europa? Diniz é capaz de desenvolver outros modelos de jogo? E principalmente, Diniz tem condição de comandar uma camisa tão pesada quanto a do Brasil? Temo que a resposta para todas essas perguntas seja “não”.

por Michel Costa

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